TEMPO DE PLANEJAMENTO DAS OBRAS RESIDENCIAIS COMO INDICATIVO COMPORTAMENTAL DE CONSUMO

Um dos aspectos pesquisado nos últimos quatro anos do Painel Comportamental do Consumo de Materiais de Construção, diz respeito ao período de planejamento da obra residencial, período esse utilizado para pesquisas das características e preços dos materiais que seriam usados nessa mesma obra.

No Painel de 2015, entregue em setembro, e que entrevistou consumidores que realizaram grandes obras residenciais no período de setembro de 2014 a agosto de 2015, a maior parte da amostra, 63,5%, alegou que esse período foi de até três meses, numa média total, considerando toda a amostra de 798 entrevistados, de 3,4 meses.

Apenas para efeito comparativo, no mesmo período, setembro de 2014 a agosto de 2015, o comércio de material de construção, segundo o IBGE, havia decrescido 3,8%, no comparativo com o período setembro de 2013 a agosto de 2014 (12 meses corridos anteriores), e a taxa de desemprego, segundo a PNAD, estava em 8,7%, em junho/julho/agosto de 2015, e crescendo mês a mês.

Naquele momento a crise já se enunciava fortemente, mas, e no período seguinte, em seu auge?

No Painel de 2016, entregue em setembro, e que entrevistou consumidores que realizaram grandes obras residenciais no período de setembro de 2015 a agosto de 2016, a maior parte da amostra, 49,3% (22,4% menos do que na pesquisa anterior), alegou que esse período foi de até três meses, numa média total, considerando toda a amostra de 767 entrevistados, de 4,4 meses.

Apenas para efeito comparativo, no mesmo período, setembro de 2015 a agosto de 2016, o comércio de material de construção, segundo o IBGE, havia decrescido 12,7%, no comparativo com o período setembro de 2014 a agosto de 2015 (12 meses corridos anteriores), e a taxa de desemprego, segundo a PNAD, estava em 11,8%, em junho/julho/agosto de 2016, e também crescendo mês a mês.

Ao que tudo indica, de fato, o período de planejamento se alongou, na média, em 1 mês, mostrando um consumidor mais receoso em iniciar a obra, e, certamente, aprendendo a pesquisar cuidadosamente os materiais para se informar das características técnicas e dimensionar gastos e prazos de pagamento.

Naquele momento, como sabemos,  a crise estava em seu auge, mas, e no período seguinte, com os primeiros sinais de recuperação da economia?

No Painel de 2017, entregue em setembro, e que entrevistou consumidores que realizaram grandes obras residenciais no período de setembro de 2016 a agosto de 2017, a maior parte da amostra, 59,3% (20,3% a mais do que na pesquisa anterior), alegou que esse período foi de até três meses, numa média total, considerando toda a amostra de 900 entrevistados, de 3,8 meses.

Apenas para efeito comparativo, no mesmo período, setembro de 2016 a agosto de 2017, o comércio de material de construção, segundo o IBGE, havia crescido 1,5%, no comparativo com o período setembro de 2015 a agosto de 2016 (12 meses corridos anteriores), e a taxa de desemprego, segundo a PNAD, estava em 12,6%, em junho/julho/agosto de 2016, porém, dando claros sinais de desaceleração e queda.

Naquele momento já vivíamos a inflexão da crise, com, também, o crescimento de todos os índices de confiança dos consumidores e demais setores, como, por exemplo, o Índice de Confiança dos Consumidores da FGV/IBRE, que, em agosto de 2017 estava em 89,9 pontos. Atualmente, março de 2018, esse índice encontra-se em 101,5 pontos.

Entre muitas inferências, podemos observar que, nas questões comportamentais, no Painel de 2015, ainda detectamos um consumidor anestesiado pelos anos anteriores de crescimentos inflados e artificiais do governo Dilma Rousseff e sua Nova Matriz Econômica, no Painel de 2016, um consumidor realista e extremamente cuidadoso com seus recursos financeiros, posto que, ciente da verdadeira situação econômica do país, e, no Painel de 2017, um consumidor retomando a confiança, porém, ainda com um período de planejamento da obra acima do que o detectado no Painel de 2015.

É esperado que, após a maior crise econômica da história do Brasil surja um consumidor mais realista e pragmático – o sofrimento nos amadurece -, e que independentemente do tempo de planejamento da obra, tenha uma visão mais crítica das características técnicas, preços e condições de pagamento dos materiais que serão usados nas obras residências.

Também é notório que os três principais meios consultados durante o período de pesquisas para a obra permaneceram inalterados, independentemente do tempo de planejamento e da situação econômica do país, na ordem: as imbatíveis lojas físicas de materiais de construção, com uma média de 76,1% nos últimos três anos, os sites dos fabricantes, com uma média de 35,6%, e as mídias sociais, com uma média de 25,7%.

Infere-se, então, que esse consumidor não alterou esses meios, mas, muito provavelmente estará mais exigente em relação a eles, esperando, de maneira madura, coerência e complementaridade em todos os pontos de contato de uma mesma marca e, também, uma consistente integração entre fornecedores e varejistas.

Falar de políticas omnichannel é falar, cada vez mais, dessa nova realidade de consumo.

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