AS MARCAS DAS MIL E UMA NOITES

No mundo das coisas sempre em mudança, com tendências apontando para um novo futuro, deixando a sensação de que nada será como antes, vale muito a pena refletir sobre aquilo que é quase eterno e que está escrito e preservado há muitos séculos. Como a inspiradora saga da Sherazade. Ela não foi escrita para isso, mas é uma aula para quem quer ou precisa gerenciar marcas e seu poder de mercado.

No texto de As mil e uma noites, conta-se que um rei persa chamado Shariar vivia amargurado e muito deprimido pela infidelidade de sua mulher. Para encarar o problema, simplesmente mandou matá-la e mais: resolveu passar cada noite com uma nova esposa, que ele ordenava que fosse degolada na manhã seguinte. Um belo dia, recebeu Sherazade como sua nova mulher e ela começou a contar-lhe uma longa história que atiçou muito sua curiosidade. Antes que a noite terminasse, Sherazade interrompia o relato, mantendo o clima de suspense e deixando o novo capítulo para a noite seguinte. A criativa e estratégica atitude estendeu o casamento com o monarca por mil e uma noites e ela acabou sendo poupada da morte.

AS MARCAS SHERAZADE

Com as “marcas Sherazade”, acontece a mesma coisa! Elas têm sempre uma nova história para contar, têm sempre um novo capítulo para acrescentar ao anterior, têm sempre a capacidade de fazer o cliente, o consumidor esperar até o capítulo seguinte. Sem abandoná-la e sem riscá-la da sua lista de preferências.

Sem matá-la, enfim. “Marcas Sherazade” podem não ter todas as “noites” a mesma capacidade de provocar emoções de alta intensidade. Mas têm sempre algo a acrescentar, sempre algo que faz com que você não as descarte. Diz o texto de As mil e uma noites que, ao longo de todos aqueles anos, Sherazade acabou tendo três filhos e que foi também em nome do amor às crianças, que o rei a poupou.

Esse é um dos grandes ensinamentos das marcas Sherazade: seus filhotes, suas extensões de marca ou de negócios, multiplicam o envolvimento que você tem por elas. E aí, é muito mais difícil viver sem elas.

Muitas empresas e marcas, por razões as mais diversas param de contar suas belas histórias e não sabemos ainda como o “cliente-consumidor-Shariar” vai reagir. Talvez não seja tão impiedoso como foi o monarca. Porém, estejam certos de que ele não ficou feliz com isso. As histórias que estas marcas contam em sua comunicação o entretêm e informam em todas as horas do seu dia e de suas noites. Não sejamos ingênuos, sabemos o que são estes tempos bicudos que estamos vivendo. Conhecemos bem a necessidade de enxugamento de investimentos de marketing e comunicação. Mas conhecemos, também, as fantásticas oportunidades de contato que a engenharia digital colocou em nossas mãos. E mais, todas as formas inovadoras e nem sempre tão dispendiosa de experiências de marca que, criativamente, podemos desenvolver.

Mesmo com todas as dificuldades de que estamos conscientes, muitas marcas Sherazade não deixaram de contar alguma história, ou algum capítulo novo, ao seu Shariar e soberano cliente-consumidor. Não são apenas as grandes e tradicionais corporações que desfilaram com suas “marcas Sherazade”. Isto não é um atributo exclusivo deste perfil de empresas. Ao contrário, acho que deve ser uma obrigação das que querem crescer e não podem se limitar a contar uma ou outra história apenas, vivendo de soluços de comunicação. Ninguém cresce em uma noite, mas em mil e uma.

O tempo vai mostrar, para quem ainda não está convencido, que a Sherazade ganhará a batalha final contra as marcas retraídas, que nunca têm nada para contar. O importante não é usar montanhas de recursos para contar uma história ao mercado e sair de cena. O mais importante, mais criativo, mais estratégico e mais eficaz é ter sempre algo para alimentar o fio da meada. Ainda que em pequenas doses, em capítulos, noite após noite. As marcas Sherazade apontam o caminho mais seguro que nos leva ao futuro.

Ainda que demore mil e uma noites!

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Autor: Jaime Troiano