A FORÇA DO NORTE NOS NÚMEROS DA CONSTRUÇÃO

MERCADO – A intenção de realizar obras e reformas voltou a subir em outubro e atingiu o maior nível do ano. O Índice de Intenção de Obra (InObra), medido pela Juntos Somos Mais e Opinion Box, avançou para 29%, alta de 16% na comparação anual, com o Norte puxando a retomada.

O levantamento, com 1.062 entrevistas direcionadas a pessoas responsáveis por decisões na residência e margem de erro de ±3 pontos percentuais, mostra um padrão de comportamento do consumidor voltado à manutenção e reparos essenciais. Entre as categorias mais citadas nas obras em andamento ou planejadas aparecem tintas (63,2%), cimento (54,5%) e argamassa (53,2%), itens que revelam prioridade por intervenções estruturais e conservação do imóvel, em lugar de reformas estéticas de maior valor agregado.

O que diferencia outubro é a assimetria regional: o Norte desponta como protagonista do movimento. A região registrou índice de 43%, ou 9 pontos percentuais a mais que em setembro, e um salto de 65,38% ano a ano, a maior variação entre as regiões. Em termos práticos, o Norte passa a concentrar a maior propensão a iniciar obras no horizonte de curto prazo, com destaque para o Pará, onde o cimento figura entre os itens mais recorrentes (71% na amostra local).

O desempenho do Norte reflete fatores convergentes: expansão urbana, demanda por regularização e adaptação de imóveis, além de iniciativas locais de infraestrutura que tendem a puxar serviços e materiais. A intensificação de eventos de visibilidade internacional em estados da região, em particular a programação associada a Belém nas vésperas de compromissos globais como a COP30 aparece, de forma sutil e indireta, como um elemento que aumenta atenção e investimentos locais em obras e no entorno urbano, segundo apontam interlocutores do setor.

No Nordeste, o InObra subiu para 33% (alta mensal de 22,22% e anual de 26,92%), reforçando a retomada já em curso em parte do Nordeste. O Centro-Oeste também exibe números relevantes: 25% no índice, com avanço anual de 47,06%, indicando crescimento estrutural, ainda que com menor intensidade mensal. O Sudeste, maior mercado do país, manteve estabilidade no mês (28% e 0% de variação MoM), mas acumulou +12% ano a ano, sinal de resiliência em um mercado mais maduro. O outlier negativo foi o Sul, que registrou queda de 8% em outubro e recuo anual de 17,86%, um movimento que pode refletir fatores conjunturais regionais, incluindo adversidades climáticas e desaceleração em segmentos locais da economia.

O padrão de preferência por materiais básicos encontra eco nas cadeias de suprimento: a demanda por tintas, cimento, argamassa, rejunte e areia reforça a centralidade das pequenas intervenções domésticas no atual ciclo.

Do lado macroeconômico, a leitura é cautelosamente positiva. A alta de 16% ano a ano no InObra, num cenário de inflação relativamente contida e ajuste de poder de compra, sugere que parte das famílias retomou planos de investimentos domésticos, ainda que com prioridade à preservação do orçamento.

Para o varejo de materiais de construção, a heterogeneidade regional traz desafios e oportunidades: mercados como Norte e Nordeste exigem reforço de abastecimento e presença comercial, enquanto regiões como Sul demandam investigação sobre causas da retração e ações de estímulo. A consolidação da digitalização no setor, com marketplaces e programas de fidelidade ganhando escala, pode ser instrumento para aumentar eficiência e penetrar localidades com crescimento de demanda.