QUANDO O DESEJO SUSTENTA A CONFIANÇA, A CONFIANÇA É CEGA

Segundo o relatório Contas Nacionais Trimestrais do IBGE, o PIB da Construção encolheu 27,7%, no quinquênio 2014/2015/2016/2017/2018, a maior queda entre todos os subsetores que compõem o setor Indústria, que encolheu, no agregado de todos os subsetores e no mesmo período, 11,4%.

Esse número desalentador é fortemente influenciado pelas obras de infraestrutura, tanto patrocinadas pela iniciativa privada, como pela iniciativa pública, e, minimamente influenciado pela venda do comércio de materiais de construção.

Nesse caso, as vendas do atacado e varejo do segmento, ao término de 2018, haviam retrocedido a um faturamento de, aproximadamente, 6,6% acima do faturamento consolidado do ano de 2011, segundo cálculos apoiados na Pesquisa Mensal do Comércio, também do IBGE.

Mas, com a posse do novo governo, em janeiro de 2019, finalmente, nossos desejos de recuperação econômica seriam atendidos.


Segundo a FGV/IBRE, em janeiro, a confiança dos consumidores atingiu 96,6 pontos, maior nível desde fevereiro de 2014; dos comerciantes estava em 103,8 pontos, logo, acima do limiar de 100 pontos, que separa o pessimismo do otimismo; e, da Construção, apesar dos cinco difíceis anos anteriores, estava em 85,4 pontos, maior nível desde dezembro de 2014.

Passados apenas dois meses, na mesma pesquisa, relativa ao mês de março, a confiança dos consumidores despencou para 91 pontos, 0,5 ponto abaixo do mesmo mês do ano anterior; dos comerciantes para 96,8 pontos; e, da Construção, para 82,5 pontos, apenas 0,5 ponto acima do mesmo mês do ano anterior.

Nesse meio tempo, o volume de vendas (nominal deflacionado) do comércio de materiais de construção abria 2019 crescendo 2,2%, ante, 7,4%, no mesmo período do ano anterior; a produção industrial caia 2,6%, e a taxa de pessoas desocupadas voltava a crescer, estando, na PNAD Contínua mais recente, apenas 0,2% abaixo do mesmo período do ano anterior, ou, insignificantes 23 mil pessoas desocupadas a menos, segundo, ainda, o IBGE.

Ao que tudo indica, esses, e outros números, deram um choque de realidade nos poderes executivo e legislativo, que alheios a importância das agendas reformistas e deterioração da economia, se dedicavam a trocar ofensas nas mídias sociais.

Por outro lado, o setor Serviços, finalmente, começa a apresentar dados positivos, abrindo 2019 com crescimento, no volume de vendas, de 2,1%, sendo que o segmento Serviços Prestados às Famílias, cresceu 4,5%, nos comparativos janeiro de 2019 com janeiro de 2018.

Mas, não sejamos cegos!

Esse crescimento diz muito mais respeito às bases comparativas baixas do que propriamente a melhora consistente do ambiente de negócios, algo que já havia ocorrido com indústria e comércio de materiais de construção, em 2017 (com mais ênfase), mas, também, em 2018.

No entanto, mesmo assim, quando um setor que responde por 58% do PIB, e 57% dos empregos, segundo o IBGE, começa a dar sinais positivos, não seria esse o melhor de todos os impulsos para, finalmente, iniciarmos uma recuperação econômica real e consistente?

Confiemos, porém, sustentados pelo pragmatismo.

Na próxima semana, retomaremos as análises da jornada de compra do consumidor de materiais de construção.

O sistema de compartilhamento de inteligência de mercado DataMKt Construção é cogerido por Leroy Merlin, Eucatex, Votorantim Cimentos e Deca, empresas empenhadas em entender os novos tempos e contribuir para o crescimento e profissionalização do segmento.