AS BASES DE UMA FRÁGIL CONSTRUÇÃO

Segundo Francis Bacon, nascido no século XVI, em Londres, e, para muitos, o pai da ciência moderna: “Aquele que transmite o conhecimento deseja transmiti-lo como melhor possa ser acreditado, e não como melhor possa ser examinado; e aquele que recebe o conhecimento requer antes a satisfação presente que a investigação promissora e, assim, prefere não duvidar a não errar; a glória leva o autor a não revelar a sua fraqueza, e a preguiça leva o discípulo a não conhecer a sua força.”

Para isso, a dúvida sistemática, ante a credulidade indolente, embasada em dados de fontes fidedignas, apresenta-se como método mais eficiente para leituras e discussões de cenários diversos, ou, no caso desse artigo, do desempenho do setor de materiais de construção.

E, já que falamos de Francis Bacon, não podemos deixar de citar seu contemporâneo, o francês René Descartes, para tantos outros, o pai do método científico, e, em livre tradução, seu aforismo mais famoso: “Eu penso, logo existo”.

Vamos pensar o setor a partir de alguns números.

Dados do relatório Contas Nacionais Trimestrais do IBGE apontam para uma queda do PIB da Construção de 16,7%, no acumulado quadriênio 2014/2017. No primeiro semestre de 2018 comparado com primeiro semestre de 2017, a queda foi de 1,7%, indicando para o quinto ano negativo consecutivo.

Já, segundo a CBIC – Câmara Brasileira da Indústria da Construção, as vendas de unidades residenciais novas cresceram 29,4%, enquanto, os lançamentos, 1,6%, no comparativo primeiro semestre de 2018 com primeiro semestre de 2017, num processo positivo de redução do estoque dos imóveis residenciais novos, porém, num setor que ainda não se sente confiante o suficiente para repô-lo.

Nesse ponto, dados mais recentes da FGV – Fundação Getúlio Vargas e IBRE – Instituto Brasileiro de Economia, apontam para oscilações no índice de Confiança da Construção, nos últimos cinco meses: caiu de 82,4 pontos, em maio, para 79,3, em junho, crescendo para 81 pontos, em julho, caindo novamente para 79,4 pontos, em agosto, e, crescendo no relatório mais recente, para 80,3 pontos.

Inconstância essa notada no volume de vendas dos últimos seis meses do comércio de material de construção, segundo a Pesquisa Mensal do Comércio do IBGE: queda de 0,1%, na passagem de fevereiro para março, crescimento de 2,1%, na passagem de março para abril, queda de 9,2%, na passagem de abril para maio (efeito Greve dos Caminhoneiros), crescimento de 11,5%, na passagem de maio para junho, queda de 3,5%, na passagem de junho para julho, crescimento de 4,6%, na passagem de julho para agosto…

A mão de obra ocupada formal e informalmente na atividade Construção, segundo a PNAD Contínua do IBGE, decresceu em 275.000 trabalhadores, no acumulado ano agosto de 2018, porém, no mesmo período, o número de celetistas cresceu em 65.460 trabalhadores com carteira assinada na Construção Civil, segundo o Ministério do Trabalho…

Em outras palavras, poderíamos nos debruçar em diversas fontes e dados, e as informações continuariam inconsistentes e contraditórias, tal qual a base que sustenta a economia nacional, carente das reformas estruturais que se encaminhavam até a divulgação do conteúdo das delações premiadas de Joesley e Wesley Batista, em maio de 2017, que interromperam e enterraram o início de um círculo virtuoso.

Num setor tão dependente da confiança das empresas, dos consumidores e da concessão de crédito, com produtos de alto valor agregado e longos ciclos de compras, somente um ambiente de negócios mais consistente e previsível redundará, de fato, numa retomada das obras de infraestrutura, aumento nos lançamentos de imóveis residenciais novos e contínuos crescimentos mensais nas vendas do comércio de materiais de construção.

Pensemos  profundamente nisso nos próximos dias, sem nos ater a factoides que distraiam e desvirtuem as razões pelas quais aqui chegamos, transformando esse conhecimento em força para uma contundente recuperação econômica em 2019.

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