SEJAMOS CÉTICOS

“Não é aquilo que você não sabe que lhe causa problemas. É aquilo que você tem certeza”. Não à toa, essa livre tradução da frase do escritor Mark Twain abre o filme “A Grande Aposta”, dirigido por Adam Mckay, inspirado no livro de Michael Lewis, que por meio da sociedade norte-americana pré-crise de 2008, descreve, entre outros aspectos, o encantamento e a relutância com que teimamos em não olhar a realidade tal qual ela se apresenta.

Mas, como também disse a escritora Margaret Wertheim, “as pessoas se agarram aos números quando o mundo em volta delas desmorona”.

Bem, se a presidente Dilma Rousseff e a sua Nova Matriz Econômica, capitaneada pelo então Ministro da Economia, Guido Mantega e assessores, tivessem se agarrado aos números, ao invés de desprezá-los, sendo criativos contabilmente e maquiando-os, certamente, não teríamos mergulhado na maior crise econômica da história do Brasil.

Nunca antes na história desse país o PIB encolheu 6,9%, no acumulado dois anos, como ocorreu no biênio 2015/2016.

Logo, para não incorrermos no mesmo erro nacional desenvolvimentista, olhemos para alguns números da recuperação econômica, que se não está desmoronando, tampouco está sendo construída consistentemente.

Segundo dados mais recentes do IBGE, a produção industrial no primeiro trimestre de 2018 comparado com primeiro trimestre de 2017, cresceu 3,1%, havia crescido 4,3%, no comparativo primeiro bimestre de 2018 com primeiro bimestre de 2017, e, havia crescido 5,3%, no comparativo janeiro de 2018 com janeiro de 2017.

Em relação ao mesmo mês do ano anterior, comparando março de 2018 com março de 2017, cresceu 1,3%, ante 1,1%, no comparativo março de 2017 com março de 2016.

Em linhas gerais, o crescimento industrial está perdendo força nos comparativos acumulados ano, cujas bases estão cada vez mais altas, embora esteja tendo um desempenho melhor, comparado com o mesmo mês do ano anterior, do que no ano passado. No entanto, nos comparativos com o mês anterior do mesmo ano, apresenta pelo segundo relatório consecutivo, praticamente, estagnação, com crescimento de 0,1%, comparando fevereiro com janeiro de 2018, e, queda de 0,1%, comparando março com fevereiro de 2018.

Não são números dignos de comemorações, mas, também, não são números dignos de lamentações.

Porém, as bases do mercado tremeram, quando foi divulgado o número de pessoas desocupadas, segundo a PNAD Contínua, do IBGE, que, no trimestre móvel janeiro/fevereiro/março de 2018, chegou a 13,1%, o que significou 1.378 milhão de pessoas desocupadas a mais, do que no trimestre móvel anterior, outubro/novembro/dezembro de 2017, quando estava em 11,8%.

No entanto, ainda assim, isso significa 487 mil pessoas desocupadas a menos, do que no trimestre móvel janeiro/fevereiro /março de 2017, quando o nível de desemprego estava em 13,7%, sendo, inclusive, esse, o pico da nova série histórica.

Não são números dignos de comemorações.

Por fim, apenas para ficarmos em três fontes conjunturais, a Pesquisa Mensal do Comércio, do IBGE, continua teimando em não apresentar números positivos, sendo esse consumo, inclusive, segundo os principais analistas, aquele que seria o último a se recuperar.

Ainda não se recuperou!

Os dados mais recentes indicam que o volume de serviços no Brasil caiu 1,8%, no comparativo primeiro bimestre de 2018 com primeiro bimestre de 2017, sendo que, os serviços prestados às famílias caíram 4%, ainda assim, desempenho melhor do que a queda no comparativo primeiro bimestre de 2017 com primeiro bimestre de 2016, de 4,9%.

Mesmo considerando as alterações das bases comparativas pelas quais passou o setor, com o uso de aplicativos e novas tecnologias, expandindo, assim, o acesso e barateando os valores de serviços oferecidos às famílias, entre outros, esses números são dignos de lamentações.

Porém, devemos festejar o aumento do saldo de celetistas, no primeiro trimestre de 2018, em 204.064 trabalhadores formais, ante uma queda de 39.040, no mesmo período do ano anterior, segundo o Ministério do Trabalho, o aumento de 101,5%, nas vendas de unidades residenciais novas, e de 284,6%, nos lançamentos, nos comparativos primeiro bimestre de 2018 com primeiro bimestre de 2017, na Grande São Paulo, segundo o Secovi-SP, e, o crescimento real de 2,3%, do Varejo Ampliado, e 6,8%, do comércio de material de construção, nesses mesmos períodos comparativos, segundo o IBGE.

Em relação à Pesquisa Mensal do Comércio, devemos acompanhar atentamente os próximos relatórios, pois as bases comparativas do ano anterior estão cada vez mais sólidas, enquanto os fundamentos da recuperação, não.

Não podemos esquecer que a partir dos resultados de março de 2018, o consumo do comércio começa a se comparar com o período da primeira fase dos saques das contas inativas do FGTS, iniciado em março de 2017, e que injetou, até julho do mesmo ano, aproximadamente, R$44 bilhões no mercado de consumo.

E, se, naquele momento, o governo federal interveio na economia para estimular o consumo, numa espécie de flerte de neoliberais com velhos desenvolvimentistas, também não fez a lição de casa, aprovando as medidas estruturais necessárias para que a economia se desenvolvesse, após essa injeção de recursos, ganhando musculatura na retomada do crescimento.

Todos esses sinais inconstantes no cenário interno ainda são eriçados pelo incerto quadro eleitoral presidencial, onde nem ao menos temos certeza de que o candidato líder em todas as pesquisas, e malquisto pelo mercado, concorrerá à eleição; e de um líder, no cenário externo, que numa manhã, após uma noite mal dormida, pode desestabilizar o precário equilíbrio geopolítico em um minuto, numa declaração instantânea de até 240 caracteres.

E, voltando à crise de 2008, onde tudo começou – inclusive esse longo artigo -, período em que comprávamos o que não precisávamos, com recursos que não tínhamos, para impressionar pessoas que não conhecíamos, talvez, o maior ganho pós-crise, não seja a solidez dos fundamentos da economia, a aprovação das reformas estruturais, a ascendência de uma candidatura presidencial de centro e alinhada com as reformas, ou grandes líderes mundiais equilibrados e comprometidos com agendas humanitárias e progressistas.

Mas, sim, após um profundo período de privações, incertezas e ajustes, amadurecermos, adquirindo a capacidade de ler os diversos cenários de maneira cética e pragmática. Então, sob esse aspecto, preferimos a definição do filósofo Alain de Button, que afirma que “céticos são apenas idealistas com padrões altos demais”.

Que ideais elevados mantenha-nos firmes, independentemente dos percalços da recuperação econômica que se avizinham.

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