SOFRIMENTO, CONFIANÇA E RECUPERAÇÃO

Desde a abertura do processo de impeachment da ex-presidente Dilma Roussef, em abril de 2016, as sondagens dos índices de confiança da FGV/IBRE de diversos setores empresariais e do consumidor têm, de maneira não linear, apresentado melhora mês a mês.

Há um ano, com a aprovação do processo na Câmara dos Deputados e encaminhamento ao Senado, houve a clara percepção dos setores produtivos de que estávamos dando os primeiros passos para nos libertar de um dos períodos mais obscuros e obtusos da história da economia brasileira.

Porém, passada a euforia da transição de poder, ficou evidente que os diversos agentes financeiros e a sociedade brasileira como um todo, ainda não tinham a exata dimensão dos estragos estruturais causados pelas irresponsabilidades do governo anterior, e de que levaria muito mais tempo que o desejado para que os diversos índices de confiança, ainda em crescimento, começassem efetivamente a se traduzirem em dados macroeconômicos mais concretos.

Convencionou-se, então, com mais lucidez e resignação, que a tão desejada recuperação econômica viria de maneira lenta e gradual e, como se não bastasse, sujeita aos imprevisíveis desdobramentos da Operação Lava-Jato.

Mas, em que ponto estamos e como isto impacta o segmento de materiais de construção?

Segundo a FGV/IBRE, em abril de 2016, o Índice de Confiança do Consumidor estava em 65,3 pontos; no relatório atual, um ano depois, alcançou 85,3 pontos, maior nível desde dezembro de 2014. O índice de Confiança do Comércio estava em 69,1 pontos, em abril de 2016; no relatório atual, alcançou 85,6 pontos, também o maior nível desde dezembro de 2014. Por fim, apenas para ficarmos nestes três segmentos, o Índice de Confiança da Construção estava em 67,2 pontos, em abril de 2016; no relatório atual, alcançou 75,1 pontos, maior nível desde junho de 2015.

Porém, neste momento, finalmente e como esperado, a subjetividade do sentimento de confiança começa a se traduzir, lenta e gradualmente, em dados concretamente positivos e perspectivas reais de recuperação econômica.

Num cenário de inflação controlada, atualmente em 0,96%, no acumulado primeiro trimestre de 2017, o menor índice desde a implantação do Plano Real; aceleração da queda da Taxa Selic, atualmente em 11,25% ao ano, menor nível desde outubro de 2014 e perspectiva de crescimento do PIB em 2017, segundo o Boletim Focus do Banco Central, após uma queda no acumulado últimos dois anos de 7,2%; o comércio de material de construção apresentou, no volume de vendas, crescimento de 1,4%, no primeiro bimestre de 2017 comparado com o primeiro bimestre de 2016, o maior entre as dez grandes áreas de atividades comerciais pesquisadas pelo IBGE.

Não podemos afirmar que este crescimento se sustentará nos próximos relatórios, mas, podemos sim afirmar que o segmento não apresentava crescimento no comparativo acumulado ano com o acumulado ano anterior desde outubro de 2014, quando fechou o ano com crescimento zero, iniciando sucessivas quedas em 2015 e 2016, totalizando uma queda acumulada, nesses três últimos anos, de 18,2% no volume de vendas.

Segundo o Painel Comportamental do Consumo de Materiais de Construção, em setembro de 2015, 49,5% dos entrevistados que realizaram uma grande reforma residencial acreditavam que suas vidas financeiras estariam melhor nos próximos seis meses. Exatamente um ano depois, em setembro de 2016, numa nova pesquisa, também com entrevistados que realizaram uma grande reforma residencial, esse número subiu para 53%.

O fato é que após anos de farra fiscal governamental e excessos de consumo, num ambiente de recursos irreais e permeado pela corrupção em todas as esferas do poder público, após a mais sofrida e profunda crise da história do país, é de se esperar que surja um novo consumidor, segundo nossas pesquisas, mais maduro, realista, pragmático, com valores mais consistentes e muito bem informado, devido a evolução do aprendizado do uso das plataformas e canais digitais para pesquisas, comparações e compras.

Estarão os varejistas e fornecedores de materiais de construção preparados para atender a demanda reprimida dos últimos três anos destes novos consumidores, oferecendo propostas de marcas e de experiências de compra relevantes e, principalmente, cumprindo-as, entregando em todos os pontos de contato aquilo que foi prometido?

Se foi a partir da confiança que iniciamos a recuperação econômica, que seja também a partir dela que construamos novas e melhores relações de consumo para um país em crescimento.

O sistema de compartilhamento de inteligência de mercado é cogerido por Leroy Merlin, Eucatex, Pincéis Atlas, Votorantim Cimentos e Deca, empresas empenhadas em melhor entender o segmento, contribuindo para sua profissionalização e desenvolvimento.