AS COLEÇÕES NOS SALVARÃO

Em nosso relacionamento com diversas empresas do setor, temos a oportunidade de acompanhar o planejamento e esmero com que muitas dessas empresas preparam os lançamentos de novas coleções de produtos, sejam eles pisos, revestimentos cerâmicos, metais sanitários, acessórios para banheiro, tintas, espelhos para tomadas, luminárias, e tantos e tantos outros itens, atualizando-os de acordo com as tendências de mercado, segundo especialistas e designers.

O objetivo é claro: proporcionar ao varejo de materiais de construção a renovação de materiais imprescindíveis para o lar, seguindo, ou, mesmo, lançando moda, estimulando os consumidores a trocá-los, tornando, esse mesmo lar, mais belo e acolhedor.

Não se trata de nos apropriarmos dos preceitos do fast fashion, já que materiais de construção podem ser tudo, menos descartáveis, mas sim, de nos apropriarmos do conceito de que, se automóveis, eletroeletrônicos, eletrodomésticos e tantos outros tipos de produtos podem ser substituídos por modelos mais novos, recorrentemente, porque materiais de construção devem gastar, quebrar, ficar em frangalhos, para, ai sim, as famílias decidirem substituí-los?

Será que o nosso mercado se apoia em sentimentos negativos para gerar vendas de novos produtos elaborados com tanto cuidado?

Não faz sentido, e é injusto com toda a cadeia.

Se não bastasse, como vimos no artigo anterior, O Círculo Virtuoso da Educação na Construção, o pesadelo que representa o momento da obra, principalmente, pela baixa qualidade dos executores e seus consequentes transtornos para as famílias, as novas coleções acabam sendo adquiridas, em sua maioria, no momento da grande reforma, e não no momento de apenas cuidar do lar como hábito, rejuvenescendo-o ou modernizando-o, no intuito de torná-lo mais agradável e/ou funcional para a convivência com familiares e amigos.

Nisso, o sentido de coleção se perde, pois o produto seria comprado de qualquer maneira.

Ora, num momento de ânimos acirrados, radicalismo, aumento da violência, inseguranças políticas, recessão crônica e alto índice de desemprego, lar é fortaleza, é o lugar onde nos recolhemos para acolher quem amamos.

O fato é que no Painel Comportamental de 2017, quando perguntamos para 900 entrevistados que haviam realizado obras residenciais, se com a atual situação econômica eles estavam passando mais tempo dentro de suas residências, 86,8% disseram que sim. Exatamente um ano depois, com outros 900 entrevistados, no Painel Comportamental de 2018, que também haviam realizado obras residenciais, 84,4% também disseram que sim.

Em outras palavras, se considerarmos a média dos dois últimos Painéis, podemos afirmar que 85,6% dos entrevistados estão passando mais tempo em suas casas agora, do que no período pré-crise.

Também, na média dos dois anos, 87,3% dos entrevistados alegaram que, mesmo já tendo realizado uma reforma na residência, eles tinham a intenção de continuar fazendo reparos, melhorias, dando continuidade à obra ou coisas pontuais, procurando deixar o lar ainda mais agradável.

Em que momento os perdemos?


Considerando os próximos anos, que ao que tudo indica, o crescimento econômico será tímido – se houver –, ganhar mercado, de verdade, não significará apenas conquistar share dos concorrentes, mas sim, alterar os hábitos de consumo de materiais de construção, tornando esses consumidores eventuais, que aparecem de cinco ou de dez em dez anos, quando estão reformando, em consumidores recorrentes.

Talvez, juntos, varejistas e indústrias possam entendê-los no momento de uma grande obra e se comunicarem nos momentos seguintes: “que tal você conhecer a nova coleção de cores Ultra Violet, para renovar a pintura do quarto de sua filha adolescente? Afinal já faz dois anos que você pintou o quarto dela”; “Faz um ano que você trocou os misturadores de seu lavabo. Está na hora de conhecer a coleção Águas de Março para lavabos… Suas visitas não vão querer sair do banheiro”… Enfim, são inúmeros os exemplos possíveis.

O fato é que, ao que tudo indica, os fabricantes são muito competentes em desenvolver e reestilizar produtos, o varejo também é muito competente em expô-los e oferecê-los, mas e o consumidor? Sabe disso?

Conhece o conceito de coleções?

O sistema de inteligência de mercado DataMkt Construção é cogerido por Leroy Merlin, Eucatex, Pincéis Atlas, Votorantim Cimentos e Deca, empresas empenhadas em melhor entender o segmento, contribuindo também, para sua profissionalização e desenvolvimento.