ASSIMETRIA ENTRE SERVIÇOS E MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO

Das pesquisas do IBGE que monitoram os desempenhos das vendas de produtos, serviços e da produção industrial, a Pesquisa Mensal de Serviços tem sido a que apresenta os resultados menos animadores.

Em suma, considerando o comparativo acumulado ano setembro de 2017 com acumulado ano setembro de 2016, o comércio geral de bens de consumo teve crescimento real de 2,7%; o comércio de materiais de construção cresceu 7,5%; a produção industrial geral cresceu 1,6%; enquanto o setor de serviços continua apresentando queda real de 3,7%, sendo que os serviços prestados às famílias estão negativos em 1,2%.

Aprofundando estes últimos, que se dividem em dois subsegmentos, “Serviços de alojamento e alimentação” está negativo em 0,3%, enquanto “Outros serviços prestados às famílias” está negativo em 6,1%.

Caso estas quedas não sejam revertidas, em ambos, será o terceiro desempenho percentual anual negativo consecutivo.

Segundo o próprio coordenador da pesquisa, Roberto Saldanha, “a reação dos serviços depende de um ritmo mais forte da economia, de uma demanda maior da indústria, do comércio e dos governos, que enfrentam dificuldades fiscais”.

Mas, talvez, as questões que afetam o faturamento do setor de serviços sejam, além de conjunturais, também, de ordem estrutural.

Num segmento significativamente dependente da prestação de serviços na composição total dos gastos de uma obra, vale investigar essa hipótese.

Segundo a pesquisa Dimensionamento dos gastos dos consumidores quando reformam e constroem, que realizou entrevistas em 500 domicílios que haviam sido reformados e/ou ampliados no período de novembro de 2014 a outubro de 2015, na região metropolitana da São Paulo, foram gastos estimados R$3.778.497.096,80 em materiais de construção e R$2.459.597.116,60 na contratação de mão de obra, o que, significaria 60,57% dos gastos totais com materiais, e 39,43% para contratação de mão de obra.

Essa estimativa, baseada na declaração de gastos dos entrevistados, dá a dimensão aproximada do peso do componente “serviços” no montante total despendido durante uma obra residencial.

É fato que o novo modelo econômico, que se firmou globalmente pós-crise de 2008, e que ganhou força com a recuperação da economia mundial, a tão propalada economia de compartilhamento, ou colaborativa, também, em terras brasileiras, se firmará e impactará todos os segmentos, e, em especial, a exemplo do que já ocorre globalmente, a oferta de serviços, tais como, alimentação, transporte, hospedagem, entre outros, além de serviços diversos para manutenção dos lares, por meio de um acesso ilimitado à oferta pela internet e utilizando em larga escala aplicativos para smartphones, barateando, assim, suas contratações.

Seria incoerente imaginarmos que o segmento passará incólume a essa mudança econômica, com experiências sólidas já em andamento para o fornecimento de mãos de obra para pequenos reparos, manutenções e melhorias domésticas, e, ainda, executores, como pedreiros, pintores, eletricistas, entre outros, para obras de maior envergadura.

Com o desenvolvimento dos comércios eletrônicos especializados e a redução da assimetria das informações sobre os materiais de construção, suas características, preços e condições de pagamento, e consequente maior pressão dos consumidores sobre os fornecedores e varejistas, é saudável para o mercado a democratização do acesso e difusão dos valores cobrados pelos prestadores de serviços, otimizando, também, suas contratações, de maneira compartilhada ou não.

Com isso, quem sabe, dentro do orçamento da obra, sobrará mais dinheiro para gastos com materiais de construção.

O sistema de compartilhamento de inteligência de mercado é cogerido por Leroy Merlin, Eucatex, Pincéis Atlas, Votorantim Cimentos e Deca, empresas empenhadas em melhor entender o segmento, contribuindo para sua profissionalização e desenvolvimento