DIY – DO IT YOUTUBE

Em setembro de 2016, como consequência da entrega do Painel Comportamental do Consumo de Materiais de Construção daquele ano, havíamos detectado a importância do YouTube para as pesquisas e comparações de informações dos materiais de construção anteriores ao início da obra.

Na nova onda do painel, com resultado entregue exatamente um ano depois, além de detectarmos a tendência de crescimento do meio nesta fase, também, avaliamos sua importância para pesquisas de técnicas de “Faça Você Mesmo”, ou, em inglês, Do It Yourself, simplificado pelo acrônimo DIY.

Estaremos, finalmente, diante de um canal que colaborará para a difusão de um hábito tão comum nos Estados Unidos e Europa, mas ainda incomum por aqui, rompendo, assim, a resistência dos brasileiros?

Se sim, quais os pontos de resistência que esta disrupção poderá encontrar junto ao mercado?

No painel entregue em 2016, considerando 767 entrevistas com consumidores que realizaram grandes obras residenciais, entre setembro de 2015 e agosto de 2016, o YouTube foi acessado por 13,1% do total da amostra, durante o planejamento da obra para pesquisas gerais dos materiais, elaboração de orçamentos e avaliação de mãos de obra, num período que levou, em média, 4,4 meses.

No painel entregue em 2017, considerando 900 entrevistas com consumidores que realizaram grandes obras residenciais entre setembro de 2016 e agosto de 2017, o YouTube foi acessado por 16,1% do total da amostra para os mesmos fins, num período que levou, em média, 3,8 meses.

Em suma, somente por estes dados é possível inferir que houve uma aceleração no processo decisório da obra e tendência de alta nos acessos ao YouTube.

Já, quando perguntamos especificamente sobre pesquisas de técnicas de “Faça Você Mesmo” anteriores ao início da obra, 69,1% dos entrevistados alegaram tê-las realizado, com discreto destaque para as classes B e C, sendo que deste universo, 77,2% o fizeram consultando o YouTube, disparadamente o meio mais acessado.

A segunda maneira de obter informações destas técnicas foi consultando amigos e parentes, para 31,5% dos entrevistados, seguido por outras três mídias digitais: blogs especializados em reforma e construção, com 27,7%; Facebook, com 27,5%; e sites dos fabricantes, com 25,5%.

Inquestionavelmente, a internet tem desempenhado um papel cada vez mais relevante na jornada de compra dos consumidores de materiais de construção, destacadamente para o desenvolvimento do mercado de “Faça Você Mesmo”, a ponto de já despertar a reação de alguns executores, como pintores, que receando perder clientes começaram a boicotar ou retaliar, colocando fitas brancas nas latas de tintas em seus trabalhos e divulgações para ocultar as marcas dos fabricantes que investem nestes tipos de vídeos.

Não seria exagero considerar que, com a ascendência dos meios digitais no segmento, comecem outros tipos de boicotes e retaliações por parte de outros executores em segmentos diversos, prejudicando o desenvolvimento de mudanças estruturais inevitáveis, que assimiladas poderiam trazer ganhos imediatos para todos os envolvidos na cadeia.

Não podemos esquecer que a tão propalada economia de compartilhamento ganhou força no mundo pós-crise financeira de 2008, adiada com agravamento no Brasil para 2013, graças, principalmente, ao desmedido intervencionismo estatal e injeção de recursos financeiros inexistentes no mercado, e que, após pouco mais de três anos, a depressão econômica dá sinais claros de arrefecimento, sintonizando-nos, assim, ainda mais com o novo modelo econômico mundial.

No Workshop Painel Comportamental do Consumo de Materiais de Construção, realizado em parceria com a Ferraz Pesquisa de Mercado, este foi um dos temas discutidos, chegando-se a conclusão de que estas mudanças devem ser assimiladas e acompanhadas com cautela pelos principais players, equilibrando os investimentos nos diversos canais digitais, escolhendo-os, direcionando-os e desenvolvendo linguagens, serviços e produtos de acordo com os perfis destes públicos.

Afinal, a mesma tecnologia pode servir para desenvolver aplicativos que indiquem profissionais para uma obra, sistemas de recomendação de executores nos sites, difusão de vídeos de conscientização sobre a importância da contratação de mão de obra especializada para construções e reformas de maior complexibilidade, aplicativos para compartilhamento de sobras de materiais estimulando um número maior de obras, e tantas outras possibilidades para aqueles que se adaptarem à nova realidade do mercado de consumo.

Com isto, como segmento, talvez possamos ganhar tempo evitando atritos e nos concentrando naquilo que importa e que dará ganho para toda a cadeia: estimular cada vez mais os consumidores a cuidarem continuamente de seus lares, seja construindo, reformando, ampliando, fazendo consertos estruturais, pequenos reparos, manutenção e melhorias domésticas, transformando-os em recorrentes, e não mais pontuais.

Afinal, não é isso que os segmentos automotivo, de eletrodomésticos e de eletroeletrônicos, por exemplo, já não fazem com muita competência?

O sistema de compartilhamento de inteligência de mercado é cogerido por Leroy Merlin, Eucatex, Pincéis Atlas, Votorantim Cimentos e Deca, empresas empenhadas em melhor entender o segmento, contribuindo para sua profissionalização e desenvolvimento.