Um dos aspectos mais valiosos do Painel Comportamental é a possibilidade de acompanharmos, por meio de pesquisas contínuas com amostras distintas, as alterações comportamentais dos consumidores de materiais de construção mediante variáveis semelhantes, e, com base nesses resultados, compreendermos melhor os impactos do ambiente macroeconômico em seus hábitos e atitudes.

Nos últimos anos, sempre considerando uma amostra que realizou obras e reformas residenciais, perguntamos, também, se esses entrevistados tinham aproveitado esse momento para decorar a residência reformada, considerando a troca de móveis, tapetes, cortinas e demais objetos decorativos.

Enfim, considerando o período de setembro de 2014 a agosto de 2015, relativo ao Painel de 2015, portanto, no início da crise econômica; o período de setembro de 2015 a agosto de 2016, relativo ao Painel de 2016 e com a crise em seu auge; e o período de setembro de 2016 a agosto de 2017, relativo ao Painel de 2017, com a crise sendo debelada, e maior ganho de confiança dos consumidores, como se comportaram os entrevistados que fizeram obras residenciais em relação à decoração de seus lares?

Sempre entregues no mês de setembro, em 2015, 56,4% dos entrevistados que realizaram grandes obras residenciais alegaram que aproveitaram a ocasião para também decorar seus lares.

Nesse mesmo período, o PIB no comparativo acumulado dos quatro trimestres anteriores terminados em setembro de 2015 com os quatro trimestres anteriores terminados em setembro de 2014, registrou uma queda de 2,5%, em dados não revisados. Nesse mesmo período comparativo, o comércio de material de construção apresentava uma queda de 4,9%.

Já, em 2016, apenas 43,1% dos entrevistados que realizaram grandes obras residenciais alegaram que aproveitaram a ocasião para também decorar seus lares.

Nesse mesmo período, o PIB no comparativo acumulado dos quatro trimestres anteriores terminados em setembro de 2016 com os quatro trimestres anteriores terminados em setembro de 2015, registrou uma queda de 4,4%, em dados não revisados. Nesse mesmo período comparativo, o comércio de material de construção apresentava uma queda de 12,6%.

E, por fim, em 2017, 50,5% dos entrevistados que realizaram grandes obras residenciais alegaram que aproveitaram a ocasião para também decorar seus lares.

Nesse mesmo período, o PIB no comparativo acumulado dos quatro trimestres anteriores terminados em setembro de 2017 com os quatro trimestres anteriores terminados em setembro de 2016, registrou uma queda de 0,2%, em dados não revisados. Nesse mesmo período comparativo, o comércio de material de construção apresentava crescimento de 3,7%.

Somente por esses dados podemos concluir que os consumidores do Painel de 2015, embalados pelos anos de crescimento econômico e ainda não totalmente conscientes dos estragos feitos na economia pela Nova Matriz Econômica dos anos Dilma Rousseff, se sentiam mais confiantes para também decorar seus lares.

Confiança essa que, mesmo com a tímida recuperação econômica, não foi suficiente para decorarem seus lares no período de setembro de 2016 a agosto de 2017, tanto quanto decoraram no período de setembro de 2014 a agosto de 2015.

Mas, o principal indicativo que pode nos ajudar a entender esse comportamento diz respeito ao número de pessoas desocupadas, segundo a PNAD Continua do IBGE: em setembro de 2015, havia 8.979 milhões de pessoas desocupadas, com tendência de alta iniciada em janeiro do mesmo ano; em setembro de 2016, havia 12.022 milhões de pessoas desocupadas, consolidando a tendência de alta iniciada em janeiro de 2015; e, por fim, em setembro de 2017, havia 12.961 milhões, porém, diferentemente das duas situações anteriores, apresentando tendência de queda iniciada em março.

Nesse exato momento, no relatório mais recente, relativo a janeiro/fevereiro e março de 2018, segundo, ainda, o IBGE, há 13.689 milhões de pessoas desocupadas e com viés de alta, iniciada em dezembro de 2017.

Enfim, as obras continuarão ocorrendo, já a decoração dos lares… Aguardemos cautelosos os resultados do próximo Painel.

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