VAREJO, A TÁBUA DE SALVAÇÃO

Os dados relativos a produção industrial vinham apresentando os mais promissores indicativos de recuperação, sendo que, segundo o IBGE, a produção de bens de capital abriu o ano com crescimento de 3,3%, bens intermediários com crescimento de 0,8%,  bens de consumo com crescimento de 2,3%, sendo que a produção industrial geral cresceu 1,4%, no comparativo janeiro de 2017 com janeiro de 2016.

Desde então, por três relatórios consecutivos, não foi possível observar um crescimento linear e consistente na produção destas quatro grandes categorias, sendo que no mais recente relatório, comparando a produção do primeiro quadrimestre de 2017 com primeiro quadrimestre de 2016, bens de capital continua crescendo, porém 1,9%; bens intermediários apresentou queda de 1%; bens de consumo queda de 0,8%, sendo que a produção industrial geral apresentou queda de 0,7%.

Com este resultado parcial, o percentual da produção industrial geral, ainda que num patamar significativamente melhor, indica para o quarto ano consecutivo de retração, pois fechou o ano de 2014 em -3,2%; 2015 em -8,3; e 2016 em -6,6%.

E como estão se comportando as indústrias de materiais de construção?

Segundo dados da Abramat, já relativos ao comparativo primeiro quinquemestre de 2017 com primeiro quinquemestre de 2016, o faturamento deflacionado das indústrias de materiais básicos apresentou queda de 7,1%; indústrias de materiais de acabamento queda de 6,9%, sendo que o faturamento deflacionado geral apresentou queda de 7%.

Com este resultado parcial, o percentual do faturamento deflacionado das indústrias de materiais de construção, a exemplo das industriais em geral, também num patamar significativamente melhor, indica para o quarto ano consecutivo de retração, pois fechou o ano de 2014 em -6,6%; 2015 em -12,6%; e 2016 em -11,5%.

Em suma, no acumulado últimos três anos a produção industrial geral caiu 17,93%, enquanto o faturamento deflacionado das indústrias de materiais de construção caiu 27,76%.

Independentemente das métricas diferentes, é notório como o impacto da atual crise econômica se faz notar de maneira mais acentuada nas indústrias de materiais de construção, talvez por sua menor capacidade de importar, logo, maior dependência do consumo interno, que, por sua vez, está em grande parte atrelado às obras de infraestrutura e das construtoras.

Neste primeiro quesito, infraestrutura, segundo estimativa da consultoria Inter.B, especializada em análises de natureza econômica e regulatória nos setores de infraestrutura, em 2016 o poder público e a iniciativa privada investiram R$110 bilhões em obras, queda de aproximadamente 17%, em relação ao ano de 2015, já descontada a inflação, e o menor nível dos últimos 13 anos.

Já em relação às construtoras, dados da Abrainc, entidade que congrega 34 grandes incorporadoras de atuação nacional, apontaram para uma queda de 9%, no lançamento de unidades de imóveis novos, e 8%, nas vendas de unidades de imóveis novos, no comparativo ano de 2016 com ano de 2015.

O que nos leva ao terceiro pilar do tripé que sustenta a produção industrial de materiais de construção: o atacado e varejo de materiais de construção.

Mesmo com os dos dados da Pesquisa Mensal do Comércio do IBGE, que apontaram para uma queda no volume de vendas no segmento de 10,7%, no comparativo ano de 2016 com ano de 2015, é de se esperar, pela menor complexibilidade da contratação das obras e volume individual de recursos para compra dos materiais, que será justamente este pilar, que manterá os níveis percentuais da produção industrial melhores em 2017 do que nos anos anteriores.

Há alguns indicativos que podem sustentar esta hipótese.

Segundo a onda mais recente do Painel Comportamental do Consumo de Materiais de Construção, entregue em setembro de 2016, realizado somente com entrevistados que fizeram grandes obras residenciais, independentemente do ano pesquisado, tanto em 2014, como em 2015, como em 2016, o número de entrevistados que alegaram terem realizado obras de caráter estrutural se manteve na casa dos 40%, ou seja, este contingente garante uma base, como um colchão de consumo imune a crise, atrelada a deterioração estrutural dos ambientes residenciais.

Segundo outro estudo, entregue em junho de 2016, Oportunidades Estratégicas para Desenvolvimento de Novos Mercados, 84,3% dos entrevistados que fizeram uma grande reforma residencial no período de até um ano anterior, consideraram que a obra não estava finalizada e que seria retomada quando a situação econômica melhorasse.

Junta-se a isso o fato de que 89,4% desses mesmos consumidores que não consideravam suas obras finalizadas alegaram que, devido a crise, estão passando mais tempo dentro de seus lares com familiares e amigos, extrapolando esse perfil, temos uma conjunção de fatores favoráveis para o varejo.

Obras estruturais, que obrigatoriamente devem ser feitas como parte de um processo de deterioração dos materiais, um contingente significativo de obras inacabadas a espera de sinais de melhora econômica, e consumidores viajando e se alimentando menos fora de casa e convivendo mais intensamente com familiares e amigos em seus lares, logo, mais sujeitos a fazer pequenas melhorias e reparos domésticos, que torne essa convivência mais agradável.

É isso, talvez, o que tenhamos em 2017 como tábua de salvação em águas turbulentas, num maremoto que varreu o Brasil, em especial o segmento, mas que tudo indica amainará e trará novos horizontes a partir de 2018.

O sistema de compartilhamento de inteligência de mercado é cogerido por Leroy Merlin, Eucatex, Pincéis Atlas, Votorantim Cimentos e Deca, empresas empenhadas em melhor entender o segmento, contribuindo para sua profissionalização e desenvolvimento.